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As flores são, frequentemente, presentes de última hora, de uma pessoa que se esqueceu do aniversário. Um buquê de rosas é sempre um presente delicado. Eu amo as rosas. Mas sempre prefiro uma única rosa a um buquê. Por razões do Principezinho que amava uma rosa, a sua rosa, de quem cuidava diariamente e que temia que o carneiro a comesse, na sua ausência. Mas fico irritado porque sei que, ao receber um buque de rosas, todas as pessoas vão dizer a mesma coisa: “Que lindas!” Vendo a notícia sobre o Dia Internacional das Flores meu pensamento começou a vagabundear e começaram a vir à minha memória coisas que místicos e poetas disseram sobre elas. Também os místicos e poetas têm a sua terapia floral. Só que suas flores, para serem remédios, não devem ser bebidos em gotas. Em gotas coloridas elas já não são mais flores... As flores, para terem poderes curativos, devem ser contempladas cuidadosamente, devagar, com o mesmo encantamento com que se contempla o corpo nu da mulher amada... Jesus, por exemplo, dizia que o remédio para a ansiedade é olhar (note bem: olhar...) os lírios dos campos, aqueles que nascem nos pastos sem que ninguém os tenha plantado. O nome em inglês é Morning Glory – Glória da manhã, trepadeira, parente da ipomeia. Para mim as azuis claro são as mais delicadas. Em 6 horas, não mais que 6 horas, elas abrem, soltam o seu azul, fecham-se e morrem. A elas eu dedicaria um verso da Cecília Meireles, do seu poema Sugestão: “Sede assim – qualquer coisa serena, isenta, fiel. Flor que se cumpre, sem pergunta...“ “ Cumprir-se, sem fazer perguntas: que coisa mais comovente! E nós, tolos, que nunca chegamos a nos cumprir, por termos a necessidade de ter todas as respostas primeiro. Walt Whitmann dizia que uma Morning Glory pela manhã, na sua janela, lhe dava mais felicidade e sabedoria que todos os livros de filosofia. Alberto Caeiro, cuja poesia tem a clara intenção de enfeitiçar os nossos olhos para que voltemos a ver como as crianças viam, dizia que o olhar tem de ser nítido como um girassol. Ah! Os girassóis de van Gogh! E é assim que Ricardo Reis termina o seu mais belo poema: “Colhamos flores. Molhemos leves as nossas mãos Nos rio calmos, Para aprendermos Calma também. Girassóis sempre Fitando o Sol, Da vida iremos Tranquilo, tendo Nem o remorso De ter vivido...“
Rubem Alves