segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Borboleta



Texto de Nice Baêta

Em 2011 eu quero minha vida mais leve.
Com menos carga, menos culpa, menos remorso,
menos compromisso de hora marcada.
Quero esvaziar as gavetas da alma, jogar tudo no chão,
fazer uma faxina.
Silenciar as vozes...
pensar menos...
viver mais...
Vestir mais branco...
Olhar o céu... ver o azul...
tomar mais sorvete...
sentir o vento....
pisar na areia...
sentir o cheiro de terra depois a chuva......
comer mais pão...
sem brigar com a balança...
sair de cara lavada...
brincar com meu cachorro...
sorrir para os meus vizinhos.
Eu quero não carregar mais o peso do meu passado...
dos amores que não deram certo ou que não vivi...
das oportunidades que perdi.
Da carreira profissional que deveria ter deslanchado.
Da cobrança a sociedade.
Quero Tudo com mais QUALIDADE.
Quero olhar menos para o relógio... quero mais elegância... a
final a elegância mora no simples... quero uma alma elegante...
Um amor mais leal... mais intenso...
mais profundo... mais corajoso... mais sincero.
Quero ser mais leal comigo.
Quero dinheiro para realizar meus sonhos...
Quero aprender a tomar vinho...
Quero mais roupas de seda e lençois de cetim...
quero dormir melhor. Sentir o cheiro da roupa lavada e perfumada,
quero o cheiro das flores...
Quero escrever sem ter medo de assasinar o portugues.
Quero ir ao teatro... ouvir música boa no último volume...
dançar até ficar exausta.
Quero tatuagem. Beijar na boca e ser feliz.
Quero me sentir confortável comigo mesmo.
Quero me reinventar. Me despir de preconceitos e conceitos antigos.
Ao acordar pela manhã ter a coragem de ser uma pessoa diferente a cada dia.
Quero Ser borboleta.

-

Tatuagem
Chico Buarque
- Ruy Guerra/1972-1973
(Para a peça Calabar de Chico Buarque e Ruy Guerra)

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega,
esfrega, nega
Mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio,
a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe
Arpões,
sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes.

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