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Não sei quanto a você, mas eu ando definitivamente
exausta de correr atrás da perfeição. No outro dia me peguei medindo as toalhas
de banho dobradas para que elas formassem impecáveis pilhas no meu armário. Uma
amiga me diz que arruma os vidros de tempero por ordem alfabética. Não é
incrível?Nosso índice de tolerância aos "defeitos de fabricação" do
universo anda mesmo muito baixo. E isso nos torna a espécie mais reclamona do universo,
provavelmente a única!
Ou será que bois e vacas interiormente também
reclamam do calor e daquelas moscas sempre em volta dos seus rabos... Passamos
um bocado de tempo tentando caber nas molduras que inventamos para nós mesmos.
Isso quando escapamos de tentar vestir à força as expectativas que os OUTROS
criaram para NÓS. Senão, me digam por que seres humanos razoáveis investiriam
tanto tempo, dinheiro e energia para tentar recuperar a imagem que tinham aos
18 anos?Perceber a beleza que se esconde nas frestas do mundo imperfeito é uma
Arte. Você conhece aquela história de que os tapetes persas sempre tem um
pequeno erro, um minúsculo defeito, apenas para lembrar a quem olha de que só
Deus é perfeito? Pois é, a Arte da Imperfeição começa quando a gente reconhece
e aceita nossa tola condição humana.
Para isso precisamos aprender a aceitar nossas falhas
com a mesma graça e humildade com que aceitamos nossas melhores qualidades.
E,importante:
estar disposto, sempre, a perdoar a nós mesmos. Não
precisamos ser perfeitos para ser um ser humano bem-sucedido. De fato, com mais
frequência do que imaginamos, o desejo de acertar sempre impede as coisas de
melhorarem e a necessidade de estar no controle aumenta a desordem e o caos.A
Arte da Imperfeição, no entanto, não se limita ao reconhecimento das
imperfeições humanas. Também tem a ver com nosso jeito de olhar para as coisas
mais banais, mais corriqueiras e enxergá-las com outros olhos.
Leonard Koren publicou alguns livros tentando revelar
para o nosso jeito ocidental as delicadezas do olhar wabi sabi. Wabi sabi é a
expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas
imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível. Na verdade, wabi
sabi é um jeito de "ver" as coisas através de uma ótica de
simplicidade,naturalidade e aceitação da realidade.Contam que o conceito surgiu
por volta do século 15. Um jovem chamado Sen no Rikyu (1522-1591) queria
aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá. E foi procurar o grande
mestre Takeno Joo. Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o
jardim. Rikyu lançou-se ao trabalho feliz. Limpou o jardim até que não restasse
nem uma folhinha fora do lugar. Ao terminar, examinou cuidadosamente o que
tinha feito: o jardim perfeito, impecável, cada centímetro de areia
imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas caprichadamente
ajeitadas. E então, antes de apresentar o resultado ao mestre Rikyu chacoalhou
o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam
displicentes pelo chão.
Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu
mosteiro. Rikyu virou um grande Mestre do Chá e desde então é reverenciado como
aquele que entendeu a essência do conceito de wabi-sabi: a arte da
imperfeição.O que a historinha de Rikyu tem para nos ensinar é que estes
mestres japoneses, com sua sofisticadíssima cultura inspirada nos ensinamentos
do taoísmo e do zen budismo, conseguiram perceber que a ação humana sobre o
mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de
se revelar. E a natureza das coisas é percorrer seu ciclo de nascimento,
deslumbramento e morte; efêmeras e frágeis.Eles enxergaram a beleza e a
elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Um velho bule
de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada da avó, a
cadeira de madeira branqueada de chuva que espreguiça no jardim, uma única rosa
solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que deixou entrar e
sair.Wabi sabi é olhar para o mundo com uma certa melancolia de quem sabe que a
vida é passageira e, por isso mesmo, bela.Para os olhos artistas de Leonard
Koren wabi sabi é inseparável da sabedoria budista que ensina:
Todas as coisas são impermanentes
Todas as coisas são imperfeitas
Todas as coisas são incompletas
Daí olhar para elas de um modo wabi sabi é ver:
A beleza que existe naquilo que tem as marcas do
tempo.
A beleza do que é humilde e simples.A beleza de tudo
que não é convencional. A beleza dos materiais que ainda guardam em si a natureza.A
beleza da mudança das estações.
A Arte da Imperfeição é ver a vida com a
tranquilidade de quem sabe que a busca da perfeição exaure nossas forças e
corrói nossas pequenas alegrias. Porque, como disse Thomas Moore, "a
perfeição pertence a um mundo imaginário". No nosso mundo de verdade, aqui
e agora.
Que tal abrir os olhos para o estilo wabi sabi?
* * *
Texto enviado por Denise Tiseu -
Contadora de Histórias.
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