quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Três Pequenas Histórias

http://oquevivipelomundo.blogspot.com/2011/06/olhando-vitrines-bem-boladas-com.html


O autor e conferencista Leo Buscaglia certa ocasião falou de um concurso em que
tinha sido convidado como jurado.
O objetivo era escolher a criança mais cuidadosa.
Eis alguns dos vencedores:


Um garoto de 4 anos tinha um vizinho idoso ao lado, cuja esposa havia falecido recentemente.
Ao vê-lo chorar, o menino foi para o quintal dele, e simplesmente sentou-se em seu colo.
Quando a mãe perguntou a ele o que havia dito ao velhinho, ele respondeu:
-Nada. Só o ajudei a chorar.
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Sempre que estou decepcionado com meu lugar na vida, eu paro e penso no pequeno
Jamie Scott.
Jamie estava disputando um papel na peça da escola. Sua mãe me disse que tinha
procurado preparar seu coração, mas ela temia que ele não fosse escolhido.
No dia em que os papéis foram escolhidos, eu fui com ela para buscá-lo na
escola. Jamie correu para a mãe, com os olhos brilhando de orgulho e emoção:
- Adivinha o que, mãe!
E disse aquelas palavras que continuariam a ser uma lição para mim: - Eu fui escolhido para bater palmas e espalhar a alegria!
@ @ @
Conta uma testemunha ocular de Nova York:
Num frio dia de Dezembro, alguns anos atrás, um rapazinho de cerca de 10 anos,
>descalço, estava em pé em frente a uma loja de sapatos, olhando a vitrine e
tremendo de frio.
Uma senhora se aproximou do rapaz e disse:
Você está com pensamento tão profundo, olhando essa vitrine!
- Eu estava pedindo a Deus para me dar um par de sapatos - respondeu o garoto...
A senhora tomou-o pela mão, entrou na loja e pediu ao atendente para dar meia
duzia de pares de meias para o menino. Ela também perguntou se poderia
conseguir-lhe uma bacia com água e uma toalha. O balconista rapidamente
atendeu-a e ela levou o garoto para a parte detrás da loja e, tirando as luvas,
se ajoelhou e lavou seus pés pequenos e secou-os com a toalha.
Nesse meio tempo, o empregado havia trazido as meias. Calçando-as nos pés do
garoto, ela também comprou-lhe um par de sapatos.
Ela amarrou os outros pares de meias e entregou-lhe. Deu um tapinha carinhoso em sua cabeça e disse:
- Sem dúvida, vai ser mais confortável agora.
Como ela logo se virou para ir, o garoto segurou-lhe a mão, olhou seu rosto
diretamente, com lágrimas nos olhos e perguntou:
- Você é a mulher de Deus?





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terça-feira, 30 de agosto de 2011

FAFÁ DE BELÉM - MEU FADO - 'PROCURO E NÃO TE ENCONTRO' 1992

FAFÁ DE BELÉM - Abandonada 1998


Ladrão! Ladrão!


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Um mercador voltava de uma feira, onde fizera grandes negócios. Colocara numa bolsa de couro toda a sua fortuna, em belas moedas de ouro. Ia assim por vales e montes.

Chegando à cidade de Amiens, passou diante de uma igreja. Como tinha por hábito, entrou para rezar diante da Mãe de Deus e pousou a bolsa ao lado. Quando se levantou, distraiu-se e partiu sem ela.

Havia na cidade um burguês que, ele também, tinha o costume de ir rezar aos pés da bendita Virgem.

Veio ele pouco depois ajoelhar-se no lugar que o outro acabara de deixar, e encontrou a bolsa, selada e guarnecida de um pequeno fecho. Compreendeu logo que devia conter moedas de ouro.

— Meu Deus! Que devo fazer? Se mando apregoar pela cidade o que encontrei, não faltará quem o reclame contra todo o direito.

Decidiu então guardar a bolsa num cofre, até aparecer alguém à procura. Voltou para casa, e com um pedaço de giz escreveu na porta: "Se alguém perdeu algo, que venha aqui".

Nesse ínterim o mercador tinha se dado conta do esquecimento:

— Pobre de mim! Perdi tudo! Estou aniquilado!

E voltou à igreja, na esperança de recuperar o perdido, mas nada de bolsa. Foi ter com o padre, mas nenhuma informação obteve.
Perturbado, deixou a igreja e pôs-se a vagar pela cidade. Passando diante da casa do burguês que encontrara a bolsa, viu as palavras escritas na porta. Viu também o burguês postado na janela, e aproximou-se:

— Sois vós, senhor, o dono desta casa?

— Sim, senhor, enquanto Deus o permitir. Em que vos posso servir?

— Ah, senhor! Por Deus, dizei-me: quem escreveu essas palavras em vossa porta?

O burguês fingiu nada saber:

— Senhor, passa por aqui muita gente, sobretudo estudantes que gostam de escrever o que lhes passe pela cabeça. Mas perdeste algo?

— Tudo o que possuía.

— O quê, precisamente?

— Uma bolsa de couro, guarnecida de um fecho e selada, repleta de moedas de ouro.

E descreveu a bolsa e o selo.

O burguês compreendeu sem dificuldade que aquele homem dizia a verdade. Conduzindo-o a seu quarto, devolveu-lhe a bolsa.

Vendo a lealdade do burguês, o mercador ficou todo embaraçado, e pensou: "Senhor Deus, não sou digno de possuir este tesouro. Esse honesto burguês é mais digno que eu".

E voltando-se para ele, disse:

— Senhor, este dinheiro estará melhor colocado em vossas mãos do que nas minhas. Eu vo-lo entrego e vos recomendo a Deus.

— Ah, caro amigo! Tomai vossa bolsa, por favor. A ela não tenho nenhum direito.

— Não, não a mereço. Permita Deus que não a retome.

E fugiu correndo.

O burguês pôs-se a correr atrás, aos brados:

— Ladrão! Ladrão! Prendei-o!

Os vizinhos o escutaram, saíram correndo atrás, detiveram o mercador e o conduziram ao burguês:

— Ei-lo. Que vos roubou ele?

— Senhores, ele quis roubar-me a honra e a lealdade, que conservei por toda a vida.

E contou toda a história aos vizinhos, que obrigaram o mercador a retomar seu dinheiro.

Conto Medieval francês. Fonte: "Fabliaux et Contes du Moyen Âge"


A Ordem das Palavras

Uma história japonesa mostra dois monges que viviam no mesmo mosteiro e que gostavam de fumar. Esse desejo, ao qual sucumbiam com muita freqüência, os Transformavam em alvos de repreensões e condenações.

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Certo dia eles foram convocados à presença do mestre, um depois do outro, separadamente. O primeiro disse ao mestre:

- Posso meditar enquanto fumo?

O mestre teve um acesso de fúria, respondeu que não e dispensou o discípulo da forma mais rude.

Um pouco mais tarde, o monge encontrou o outro monge fumando tranqüilamente. Espantado, ele lhe perguntou:

- Você não foi falar com o mestre?

- Sim, estive com ele.

- E ele não o proibiu de fumar?

-Não.

- Mas como é possível? O que você perguntou a ele?

- Perguntei simplesmente: posso fumar enquanto medito?

Conto Zen. Japão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fafá de Belém - Vermelho (Ao Vivo)


Deus existe?

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Rubem Alves
De vez em quando alguém me pergunta se eu acredito em Deus. E eu fico mudo, sem dar resposta, porque qualquer resposta que desse seria mal entendida. O problema está nesse verbo simples, cujo sentido todo mundo pensa entender: acreditar .
Mesmo sem estar vendo, eu acredito que existe uma montanha chamada Himalaia, e acredito na estrela Alfa Centauro, e acredito que dentro do armário há uma réstia de cebolas... Se eu respondesse à pergunta dizendo que acredito em Deus, eu o estaria colocando no mesmo rol em que estão a montanha, a estrela, a cebola, uma coisa entre outras, não importando que seja a maior de todas. Era assim que Casemiro de Abreu acreditava em Deus, e todo mundo decorou e recitou o seu poema teológico:
Eu me lembro... Era pequeno... O mar bramia, e erguendo o dorso altivo sacudia a branca espuma para o céu sereno. E eu disse à minha mãe naquele instante: “Que dura orquestra! Que furor insano! Que pode haver maior que o oceano ou mais forte que o vento?” Minha mãe a sorrir olhou para os céus e respondeu: “Um Ser que nós não vemos! E maior que o mar que nós tememos, é mais forte que o tufão, meu filho: é Deus!”
Ritmos e rimas são perigosos porque, com freqüência, nos levam a misturar razões ruins com música ruim. Deixados de lado o ritmo e as rimas, o argumento do poeta se reduz a isso:
Deus é uma “coisona” que sopra qual ventania enorme, e um marzão que dá muito mais medo que esse mar que está ai.
Ora, admito até que coisona tal possa existir. Mas não há argumento que me faça amá-la. Pelo contrário, o que realmente desejo é vê-la bem longe de mim! Quem é que gostaria de viver no meio da ventania navegando num mar terrível? Eu não... É preciso, de uma vez por todas, compreender que
acreditar em Deus não vale um tostão furado. Não, não fiquem bravos comigo. Fiquem bravos com o apóstolo Tiago, que deixou escrito em sua epístola sagrada:
Tu acreditas que há um Deus. Fazes muito bem. Os demônios também acreditam. E estremecem ao ouvir o Seu nome...(Tiago 2,19). Em resumo, o apóstolo está dizendo que os demônios estão melhor do que nós porque, além de acreditar, estremecem... Você estremece ao ouvir o nome de Deus? Duvido. Se estremecesse, não o repetiria tanto, por medo de contrair malária... Enquanto escrevo, estou ouvindo a Sonata Appassionata, de Beethoven, a mesma que Lenin poderia ouvir o dia inteiro, sem se cansar, e o seu efeito era tal que ele tinha medo de ser magicamente transformado em alegria e amor, sentimentos incompatíveis com as necessidades revolucionárias (o que explica as razões por que ativistas políticos geralmente não se dão bem com música clássica). Se eu pudesse conversar com o meu cachorro e lhe perguntasse:
Você acredita na “Appassionata”? – ele me responderia:
Pois é claro. Acha que eu sou surdo? Estou ouvindo. E, por sinal, esse barulho está perturbando o meu sono.
.Mas eu, ao contrário do meu cachorro, tive vontade de chorar por causa da beleza. A beleza tomou conta do meu corpo, que ficou arrepiado: a beleza se fez carne.
Mas eu sei que a sonata tem uma existência efêmera. Dentro de poucos minutos só haverá o silêncio. Ela viverá em mim como memória. Assim é a forma de existência dos objetos de amor: não como a montanha, a estrela, a cebola, mas como saudade. E eu, então, pensarei que é preciso tomar providências para que a sonata ressuscite de sua morte...Leio e releio os poemas de Cecília Meireles. Por que releio, se já os li? Por que releio, se sei, de cor, as palavras que vou ler? Porque a alma não se cansa da beleza. Beleza é aquilo que faz o corpo tremer. Há cenas que ela descrever que, eu sei, existirão eternamente. Ou, inversamente, porque existiam eternamente, ela as escreveu.
O crepúsculo é este sossego do céu / com suas nuvens paralelas / e uma última cor penetrando nas árvores / até os pássaros. / E esta curva de pombos,rente aos telhados, / e este cantar de galos e rolas, muito longe; / e, mais longe, o abrolhar de estrelas brancas,/ ainda servi luz.
Que existência frágil tem um poema, mais frágil que a montanha, a estrela, a cebola. Poemas são meras palavras, que dependem de que alguém as escreva, leia, recite. No entanto, as palavras fazem com o meu corpo aquilo que universo inteiro não pode fazer.Fui jantar com um rico empresário, que acredita em Deus, mas me disse não compreender as razões por que puseram o retrato da Cecília Meireles, uma mulher velha e feia,numa cédula do nosso dinheiro. Melhor teria sido retrato da Xuxa. Do ponto de vista da existência ele estava certo. A Xuxa tem mais realidade que a Cecília. Ela tem uma densidade imagética e monetária que a Cecília não tem e nunca quis ter. A Cecília é um ser etéreo, semelhante às nuvens do crepúsculo, à espuma do mar, ao vôo dos pássaros. E, no entanto, eu sei que os seus poemas viverão eternamente. Porque são belos. A Beleza é entidade volátil – toca a pele e rápido se vai.Pois isso a que nos referimos pelo nome de Deus é assim mesmo: um grande, enorme Vazio, que contém toda a Beleza do universo. Se o vaso não fosse vazio, nele não se plantariam as flores. Se o copo não fosse vazio, com ele não se beberia água. Se a boca não fosse vazia, com ela não se comeria o fruto. Se o útero não fosse vazio, nele não cresceria a vida. Se o céu não fosse vazio, nele não voariam os pássaros, nem as nuvens, nem as pipas... E assim, me atrevendo a usar a ontologia de Riobaldo, eu posso dizer que Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há,garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar,se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade .Posso então responder à pergunta que me fizeram. É claro que acredito em Deus, do jeito como acredito nas cores do crepúsculo, do jeito como acre dito no perfume da murta, do jeito como acredito na beleza da sonata, do jeito como acredito na alegria da criança que brinca, do jeito como acredito na beleza do olhar que me contempla em silêncio. Tudo tão frágil, tão inexistente, mas me faz chorar. E se me faz chorar, é sagrado. É um pedaço de Deus... Dizia o poeta Valéry:
Que seria de nós sem o socorro daquilo que não existe?
Rubem Alves
http://rubemalvesdois.wordpress.com/2011/08/17/Deus-existe/

sábado, 27 de agosto de 2011

A Galinha Vermelha




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História da galinha vermelha que achou alguns grãos de trigo e disse a seus vizinhos:
- Se plantarmos trigo, teremos pão para comer. Alguém quer me ajudar a plantá-lo?'
- Eu não. Disse a vaca.
- Nem eu. Emendou o pato.
- Eu também não. Falou o porco.
- Eu muito menos. Completou o ganso.
- Então eu mesma planto. Disse a galinha vermelha.
E assim o fez. O trigo cresceu alto e amadureceu em grãos dourados.
- Quem vai me ajudar a colher o trigo?', Quis saber a galinha.
- Eu não. Disse o pato.
- Não faz parte de minhas funções. Disse o porco.
- Não depois de tantos anos de serviço. Exclamou a vaca.
- Eu me arriscaria a perder o seguro-desemprego. Disse o ganso.
- Então eu mesma colho. Falou a galinha, e colheu o trigo ela mesma.
Finalmente, chegou a hora de preparar o pão.
- Quem vai me ajudar a assar o pão? Indagou a galinha vermelha.
- Só se me pagarem hora extra.. Falou a vaca.
- Eu não posso por em risco meu auxílio-doença. Emendou o pato.
- Eu fugi da escola e nunca aprendi a fazer pão.. Disse o porco.
- Caso só eu ajude, é discriminação. Resmungou o ganso.
-Então eu mesma faço. Exclamou a pequena galinha vermelha..
Ela assou cinco pães, e pôs todos numa cesta para que os vizinhos pudessem
ver.
De repente, todo mundo queria pão, e exigiu um pedaço. Mas a galinha
simplesmente disse: - Não, eu vou comer os cinco pães sozinha.
- Lucros excessivos!. Gritou a vaca.
- Sanguessuga capitalista! .. Exclamou o pato.
- Eu exijo direitos iguais!. Bradou o ganso.
O porco, esse só grunhiu.
Eles pintaram faixas e cartazes dizendo 'Injustiça' e marcharam em protesto contra a galinha, gritando obscenidades. Quando um agente do governo chegou, disse à galinhazinha vermelha: - Você não pode ser assim egoísta.
- Mas eu ganhei esse pão com meu próprio suor. Defendeu-se a galinha.
- Exatamente. Disse o funcionário do governo. Essa é a beleza da livre empresa. Qualquer um aqui na fazenda pode ganhar o quanto quiser, mas sob nossas modernas regulamentações governamentais, os trabalhadores
mais produtivos têm que dividir o produto de seu trabalho com os que não fazem nada.
E todos viveram felizes para sempre, inclusive a pequena galinha vermelha, que sorriu e cacarejou:
- Eu estou grata, eu estou grata.
Mas os vizinhos sempre perguntavam por que a galinha, desde então, nunca mais fez mais nada... Nem mesmo um pão.
Esta 'fábula' deveria ser distribuída e estudada em todas as escolas
brasileiras.
Quem sabe, assim, em uma ou duas gerações, sua mensagem central
pudesse tomar o lugar de toda essa papagaiada pseudo-socialista, que
insiste em assombrar nosso país e condená-lo à eterna miséria.
Em tempo... Qualquer semelhança desses bichos com alguns abaixo é mera
coincidência:
'Sem Terra',
'Sem Teto',
'Sem Bolsa Escola',
'Puxa-sacos' ,
'Sem Vergonha'...
'Sem bosta nenhuma'...
E outros bichos mais.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Menina e o Pássaro Encantado

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Rubem Alves
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam
de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão… — Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele
mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das
cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e
por isto voltava sempre. Mas chegava a hora da tristeza. — Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho… — Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar.
Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei
feliz…” Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria
para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para
que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro… — Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o
silêncio: deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu
amigo… Até que não aguentou mais. Abriu a porta da gaiola. — Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres… — Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra. — Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje… Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de
qualquer lado haveria de voltar. Ah! Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama… foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade,
mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….” E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

sábado, 20 de agosto de 2011

Luis Fernando Verissimo na Terapia ...




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O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.

Durante quarenta anos, passei longe deles . Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.

Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, flamenguistas ou são-paulinos.

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:

Na última quarta-feira, estávamos:
1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido ,
3. Umsenhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.

Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.

(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime . Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba "? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala . Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.

(3)E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que ela se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava na quinta dezena em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.

Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera.

Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz:

- O Ditinho é o nosso office-boy.

- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.

- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.

-"E você, não vai ter alta tão cedo...."

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Bola de fogo



Imgem do Google

Quem visita aquela bonita cidade mineira, orgulhosamente adormecida nos macios coxins do sertão, fica conhecendo em seus arredores uma tapera que pertencera a antiga família e que constituiu a célula inicial do importante centro comercial de hoje.


Os montões de madeirame apodrecido e os muros es-borcinados são o que resta dos sonhos do passado, pois o destino foi virando as folhas do seu livro e muita coisa mergulhando no esquecimento. A tapera dos velhos bandeirantes é tudo o que ficou das grandezas olvidadas, predendo-se à história ou à lenda, como por exemplo o sugestivo episódio da Bola de Fogo.

Uma linda jovem, de nobilíssimo tronco paulista, encanto da família fundadora, atingia o limite perigoso dos trinta janeiros sem se ter prendido a nenhum mestiço do movel arraial. Isso se dera porque os pais tinham decidido queela, sua herdeira universal, só se casaria com um branco de boa estirpe e brazão. As paredes da vetusta mansão senhorial guardavam, ciosos, os sonhos da donzela de sangue altivo. E o esperado cavalheiro branco chegou um dia, pelos meados do século XVIII, época em que se desenrola o episódio desta página.

Tratava-se de um fidalgo espanhol, aprumado, ma-cheiroso, bigodes retorcidos, trajando de acordo com a moda, e coma sua durindana pendente da cintura. Gostava de contar bravatas, relembrando duelos perigosos e amores difíceis. Era um bom copo, prezava a companhia das damas e dava a vida para não pensar em coisas sérias. Mas era branco e tinha um belo nome, ambição da distinta moça. Era quanto bastava.

Viram-se, entenderam-se e casaram.

Revista de aristocrática mansão engalanou-se para receber o cavalheiro espanhol, já então rico senhor de fazendas e de minas de ouro daquele vasto sertão e de muitas léguas de terras além de Guiacuí.

Conduziu-se a contendo, durante a lua de mel, o esposo branco da descendente de paulistas. Mas veio o tédio, a uniformidade dos dias, a quietude impertubável do lar. .. O estrangeiro era inquieto e perdulário; tendo grande fortuna à sua disposição meteu-se na companhia de estróinas e conhecidos do momento, sacrificando assim o nome ilustre a que se ligara.

A dor entrou no coração da esposa, pois via morrerem as suas últimas ilusões. A ventura entrevista esboroava-se diante da conduta do marido. Êle perdia as estribeiras. O arraial indignava-se com o seu procedimento, mas o mal era irremediável. O dinheiro era atirado a mancheias pelos balcões do vício, ou pelas ínfimas tascas, freqüentadas por escravos libertos.

Xo auge da sua infelicidade e para restringir os des-ndos do fidalgo, reuniu o resto de todo o ouro do casal, encheu um enorme tacho do engenho e resolveu atirá-lo fora, tal o ódio, insopitável que lhe despertara o vil metal, responsável pela sua desdita. Certa noite, com o auxílio de uma escrava, arrastou a sa carga até um rio próximo e precipitou-a do bar-rranco sobre as águas do profundo poço, famoso pelo remoinho.

Empobrecía, é verdade, mas destruía a causa do vício do marido e da sua prpria infelicidade. Nem assim o libertino pôs um paradeiro nos seus despautérios.

Foi muito comentado em toda a região o procedimento heróico daquela mulher. E muitos anos após, quando o gelo da morte a colheu para santa paz, os moradores do povoado viram muitas vezes, ao soar da meia-noite, uma bola de fogo a subir e a descer pelo rio, sem parar um só instante no mesmo lugar.

Essa bola de fogo marcava, no ponto em que surgia, o local preciso em que a decidida esposa precipitara o tacho de ouro, com o auxílio da escrava, que lhe jurara jamais recriar o seu segredo.
Conto folclórico. Fonte: Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Seleção de Anísio Mello. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

http://www.aletria.com.br

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Menina e o Barril

Imagens do Google


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Imagem Lagoa do Nado

Ninguém sabe mais há quanto tempo aconteceu, mas conta-se na aldeia que numa certa ocasião havia entre nós uma jovem muito bonita. Ela e as amigas costumavam brincar na praia e por vezes lá passavam grande parte do dia. Numa dessas manhãs, no vaivém das ondas, encontraram uma bonita concha. Imaginando que poderiam encontrar outras tão ou mais bonitas do que aquela, passaram um bom tempo procurando-as. De tal maneira entregaram-se àquela tarefa que quando perceberam já se fazia noite e as primeiras estrelas brilhavam no céu.
Preocupadas, todas partiram de volta para a aldeia. No entanto, no meio do cantinho, a jovem lembrou-se da concha que deixara sobre algumas pedras e pediu às amigas que voltassem à praia com ela. Temendo os espíritos que costumavam vagar pela floresta com a chegada da noite, todas se recusaram. Teimosa e encantada com a beleza da concha, a jovem resolveu ir sozinha. Tinha medo da escuridão, era bem verdade, e, para afugentar seus temores, passou a cantar. Ao ver a praia, caminhou depressa para as pedras onde , segundo se lembrava bem, deixara a concha. No entanto qual não foi a sua surpresa ao encontrar no lugar não a concha, mas um duende, uma criança pequena e de sorriso manhoso, que, ao vê-la, apressou-se em dizer:
- Você tem uma voz muito linda, menina... Cante para mim !

- Minha concha... – A jovem, com medo, quis correr.

- Cante para mim e eu lhe digo onde está a sua concha.

Ainda assustada, mas igualmente interessada em reaver a bela concha, ela o atendeu.

- Chegue mais perto para que eu possa ouvir melhor – pediu o duende.

A jovem se aproximou e foi só se aproximar que ele, muito agilmente, agarrou-a e meteu-a dentro de um barril. Em vão, ela gritou, suplicou e chorou, pedindo que ele a soltasse, presa estava e presa continuou.

Mais que depressa, o duende colocou o barril nas costas e pôs-se a vagar de aldeia em aldeia, trocando uma refeição por um bocado de boa música. Era sempre assim: ele chegava à aldeia, fazia a sua proposta e, aceita a proposta, batia no barril. Imediatamente, mesmo sem saber o que estava acontecendo, mas com medo do que o duende poderia fazer-lhe de ruim, a jovem punha-se a cantar.
Todos ficavam encantados com aquela voz melodiosa mas triste que emergia do barril. Aliás, o encantamento era tamanho que as pessoas ofereciam mais e mais comida para que ele não se fosse com o barril. O duende se enchia de comida até não poder mais e apenas as sobras ficava para a jovem, isto, quando havia sobras.
O duende continuou indo de um canto para o outro durante certo tempo. Sempre com o barril nas costas e sempre tirando dele aquela música que encantava a todos e o empanturrava de comida. Certo dia, os dois, duende e barril, acabaram chegando à aldeia onde nascera e vivera a jovem prisioneira.
Desta vez e, como vinha acontecendo desde que colocara o barril sobre os ombros e começara a ir de aldeia em aldeia, não foi nem preciso fazer a proposta. As pessoas pediram-lhe para serem entretidas. Cheio de si e já antevendo uma farta refeição, o duende apressou-se em atende-los. No entanto, os pais da jovem estavam entre os que ouviam e, mal ela começou a cantar, eles reconheceram sua voz.
- É a nossa filha ! – disse a mãe, emocionada, a alegria dando lugar à preocupação. – Como vamos fazer para tira-la daquele barril ?
Rapidamente o pai teve a idéia de, como a aldeia cobrira o duende de comida para que ele não parasse a música, dar-lhe uma comida bem forte. Assim, fizeram com que ele bebesse até que dormisse. Enquanto ele dormia, os pais da jovem a salvaram e em seu lugar dentro do Brasil colocaram abelhas e formigas guerreiras, das mais ferozes que encontraram.
E lá se foi o duende sem de nada suspeitar, até que, entrando na próxima aldeia e feita a sua proposta, ele bateu no barril. Formigas e abelhas lançaram-se furiosamente sobre a infeliz criatura e mordera, morderam , morderam. O duende fugiu para a mata e, depois disso, nem ele nem o barril foram vistos.

Fonte: Lendas Negras de Júlio Emílio Braz e Sami Dansa. Lenda africana.
http://www.aletria.com.br

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